Greve Geral: mobilização histórica também nas redes sociais

Durante o dia 28/04, a Greve Geral realizada por todo o Brasil registrou uma movimentação histórica no Twitter. Segundo a FGV-DAPP, o volume de menções superou os maiores protestos em favor do impeachment ao longo dos anos de 2015 e 2016.

Assim, no Twitter, as menções ultrapassaram o um milhão de ocorrências. Os termos capturados foram baseados nas palavras Greve, “Greve Geral”, #NestaGreveEu, #EuApoioAGreveGeral, #GreveNao, #BrasilEmGreve, #GreveGeralNoBrasil e #EuVouTrabalhar. No total, foram capturadas 1.091.815 tweets.

A partir da coleta foi gerado a grafo abaixo, com cerca de 185.992 nós e 421.198 conexões entre eles. Após a modularização do grafo e dos dados coletados, destaca-se a supremacia do agrupamento de esquerda/progressista e de apoio à greve. Ele representa mais de 69,37% de toda a rede coletada durante o dia 28/04. O agrupamento daqueles que se opuseram à greve geral corresponde a 19,25% do grafo. Por fim, o agrupamento de usuários alheios ao embate político e que exploraram de forma cômica e sem juízo de valor correspondeu a 5,25% do grafo.

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Alguns pontos durante o dia marcaram as redes sociais online. Do lado das redes que apoiaram a greve, o período foi de defesa das pautas progressistas, ataques à Michel Temer e mobilização contra as reformas. No decorrer do dia, porém, outro alvo concentrou os ataques e menções desses agrupamentos: a imprensa brasileira.

Já no agrupamento de detratores da Greve Geral, o objetivo desde o dia anterior desenhou-se nítido: atacar a Greve ligando-a ao ex-presidente Lula, ao Partido dos Trabalhadores e a CUT, aparentemente a única central sindical lembrada por esse agrupamento. Todo esse processo gerou um movimento curioso, onde os usuários @lulapelobrasil e @cut_brasil foram quase que “dragados” pelos agrupamentos de detratores que buscaram a todo momento ligar a greve geral a esses dois atores. Da mesma forma, os apoiadores da greve atacaram incessantemente o Movimento Brasil Livre e o prefeito paulistano João Doria, que anos atrás bradavam pela convocação de um Greve Geral e dessa vez posicionaram-se contra. Aqui chama atenção ainda a presença da chef Paola Carosella que criticou de forma indireta declarações do mandatário paulistano.

Menções - Grafo

AGRUPAMENTO DE APOIADORES DA GREVE

O agrupamento de apoiadores no período foi formado, principalmente, por usuários de esquerda/progressistas. Aqui, os principais usuários foram aqueles que fizeram exatamente o que a chamada “imprensa tradicional” não fez: cobriram a greve com maestria e serviram de fonte de informação para todos aqueles que buscavam fugir da cobertura medíocre de veículos dito tradicionais. Assim, @MidiaNinja, @J_Livres, @Brasil_De_Fato e @TelerSURtv foram grandes expoentes desse agrupamento.

Vermelho

O ponto mais interessante aqui talvez seja a diversidade que a composição desse agrupamento revela quando analisado de forma isolada. Aqui, o agrupamento que em um primeiro momento se mostra homogêneo entorno da defesa da Greve Geral, ao ser novamente modularizado e analisado, mostra-se formado por diversos outros agrupamentos. Assim, podemos observar o quanto o tema Greve se propagou para além dos agrupamentos de esquerda/progressistas que diariamente se engajam na pauta político-brasileira e aqui são representados pelo agrupamento vermelho. Para além desse agrupamento, outros foram formados e engajaram-se de forma essencial para que a greve tivesse o impacto histórico que teve nas redes sociais online durante o dia.

Agrupamento vermelho modularizado

Os termos mais utilizados pelos usuários fazem nítida referência ao direito de greve, ataques à Temer e as Reformas. Os três principais pontos de manifestação, aqui, foram Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Diferentemente do agrupamento de detratores que veremos mais adiante, a CUT foi pouco ou quase nada mencionada nesse agrupamento, bem como PT [termo citado em tweets que abordavam a ‘possibilidade de não gostar do PT e apoiar a greve’] e Lula, que sequer está entre os termos mais citados.

Vermelho - Nuvem

Um ponto interessante ocorreu durante o desenrolar do dia: a imprensa brasileira começou a ser extremamente atacada pela pífia cobertura das manifestações e da greve geral. A todo momento comparações entre imprensa brasileira x estrangeira surgiram nas redes e tinham como objetivo atacar principalmente a rede Globo que, desde o dia anterior, ignorava a greve geral em toda sua programação. O tema recebeu atenção especial até mesmo de @mauriciostycer.

AGRUPAMENTO DE DETRATORES DA GREVE

Diferentemente do agrupamento de apoiadores da greve que, durante o período analisado, conseguiram propagar a pauta para outros agrupamentos, os detratores da greve pouco puderam expandir e propagar seus ataques e críticas as manifestações. As figuras com maior participação nesse agrupamento foram: @blogdojefferson, @paulacamara_, @brasil_fotos, @joaquinvoltou, @VEJA, @RevistaISTOE, @roxmo, @JanainaDoBrasil, entre outros. Vale ressaltar as incessantes tentativas de João Doria de se posicionar aqui como principal representante de um agrupamento insatisfeito com as manifestações. No entanto, o prefeito de São Paulo foi alvo de diversos ataques desde o dia anterior, quando prometeu oferecer transporte para todos os servidores e teve que, no fim do dia, desistir da promessa.

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Aqui, diferente do agrupamento de apoiadores da greve, as menções à Lula foram inúmeras: Sítio, Triplex e Lula. Mais uma vez, diferentemente do agrupamento de apoiadores, o termo CUT esteve entre os mais mencionados, bem como o PT.  

Outros termos aqui buscavam cravar que a greve fracassou, ressaltando termos como pneu, ônibus, bala e baderna. O objetivo é deslegitimar o movimento e mostrar uma falsa “violência recorrente” dentro das manifestações. Aqui, diferente dos apoiadores, nenhuma menção foi feita a violência da PM contra os manifestantes.

Azul - Nuvem

AGRUPAMENTO DE APOIADORES DA GREVE – ROSA

Esse agrupamento se aproveitou da presença da greve entre os trending topics mundiais e abordou o tema com outra linguagem, outras visões e com uma linha mais cômica do que todos os outros agrupamentos. Aqui, usuários como @cleytu, @luscas, @queissosenhor, @umvesgo e @luanlovato foram os principais nesse agrupamento.

Rosa

Dentre os termos mais utilizados estão menções cômicas à greve, sem juízo de valor ou ataques as manifestações na maior parte dos tweets. Termos como grevou, sextou, beijo, louça e almoço. Foto tirada em Recife foi extremamente utilizada nesse agrupamento e mostra um morador sentado, na avenida, tomando cerveja com a manifestação ao fundo.

Rosa - Nuvem de Palavras

CONSIDERAÇÕES

Mesmo após o governo de Michel Temer tentar negar o impacto, as redes mais uma vez provam o contrário. As mobilizações entorno da Greve Geral – nas redes e nas ruas – tiveram um impacto histórico não apenas para o governo federal, mas também para a imprensa brasileira.

No decorrer do dia a insatisfação com a cobertura pífia e medíocre da imprensa foi lembrada e questionada por muitos usuários. As comparações com a cobertura independente e até mesmo com a cobertura internacional tornaram a atuação da chamada “imprensa tradicional” cada vez mais questionável perante a opinião pública.

A mobilização atingiu outros agrupamentos – e isso foi essencial para a propagação da pauta. Usuários que não envolvem-se diariamente com o embate político polarizado das redes sociais online se engajaram, dessa vez, na defesa e apoio à greve geral – seja de forma cômica ou crítica. Essa movimentação foi essencial para o sucesso da pauta nas redes.

Do lado dos detratores, o mico ficou na mão de João Doria. O prefeito paulistano que, desde a véspera da greve buscava posicionar-se como porta-voz daqueles que era contra a greve, sofreu uma série de ataques nas redes sociais online e saiu menor do que entrou nesse dia. Não tardou e dobrou a aposta, anunciando que não permitiria a mobilização do 1º de maio na avenida Paulista, cartão postal de São Paulo. Mais uma vez o mandatário da capital paulistana perdeu, na justiça, o direito de manter sua promessa: um juiz plantonista entendeu, na tarde de domingo [30/04] que é necessária garantir a equidade de tratamento a todos movimentos sociais.

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