Vale observar como o bolsonarismo conduziu o discurso sobre o ataque terrorista de ontem. A narrativa bolsonarista inicial prega defesa dos terroristas, enaltecimento das invasões e apoio aos ataques contra instituições. Porém, por volta das 20:30h, tentam uma mudança brusca. A “contra-narrativa” bolsonarista passa a condenar os ataques, critica os terroristas e chega até mesmo a difundir a falsa informação de que seriam “infiltrados”. Foram inúmeros casos de influenciadores apagando conteúdos, excluindo publicações e deletando stories.

Essa cacofonia bolsonarista faz parte de uma disputa maior. O bolsonarismo sempre foi definido por um tripé de lideranças, financiamento e ímpeto. Nos últimos meses o bolsonarismo manteve o financiamento e o ímpeto exaltado, mas passou a ter uma lacuna de lideranças. Esse processo abriu espaço para uma disputa pelo “espólio do bolsonarismo” nas redes sociais e nas ruas. Atores que até então exerciam uma menor influência nesse agrupamento passaram a exercer um papel de destaque, como vemos no cluster abaixo registrado ontem.

Em paralelo com o episódio do Capitólio nos EUA, é importante analisarmos o que aconteceu ontem como um episódio de desespero e cacofonia dentro da disputa pelo espólio bolsonarista, e não uma catarse atingida pelo ápice (ou auge) do bolsonarismo em sua atuação.