Os patriotas que falaram de Trump, mas ignoraram o Brasil

A indicação do filme “Ainda Estou Aqui” e da atriz Fernanda Montenegro para o Oscar gerou uma catarse em dois tempos nas redes sociais. Otimistas com as indicações para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz, usuários já haviam gerado um buzz com essas primeiras indicações. Porém, a indicação final para Melhor Filme foi o elemento que faltava para uma catarse extraordinária nas redes brasileiras.

Nesse cenário é interessante observarmos a composição dessa catarse. Para tal, analisei as interações coletadas no Instagram/Facebook e como elas se contrapõe aos outros temas que dominaram o debate nas últimas semanas: Nas redes Meta, 42% das interações partem de atores potencialmente antibolsonaristas. Outros 30% partem de atores de imprensa e 27% partem de atores não-polarizados. Em comparação, a posse de Trump chegou a atingir 80% de interações oriundas de atores bolsonaristas – completamente ausentes nessa catarse.

O maior pico ao analisarmos os últimos 7 dias de hora em hora (no X) foi protagonizado pelo filme “Ainda Estou Aqui”. Ainda assim, o volume de menções ao presidente estadunidense no antigo Twitter foi maior: 2.7 milhões vs 975 mil.

O cenário é extremamente distinto de outras pautas que aparecem restritas à polarização, principalmente pela já apontada completa ausência de relevância do campo bolsonarista no debate. No Instagram, Lula respondeu por duas das seis principais publicações nas 24h pós-indicações; no X, a principal publicação sobre o tema parte também da conta oficial de Lula. Outros perfis e atores de extrema-direita e ligados ao bolsonarismo estiveram completamente ausentes, como também salientou Marcelo Rubens Paiva em sua conta no X.

A primeira nuvem apresenta a bios de usuários que citam o filme ‘Ainda Estou Aqui’, enquanto a segunda mostra usuários que citaram ‘Trump’ ao longo dos últimos sete dias. É possível notar o quão restrito o debate sobre Trump ficou ao campo de extrema-direita, enquanto as indicações repercutem para outros agrupamentos nas redes sociais

Entre as abordagens utilizadas pelos usuários estão a representatividade nacional e o reconhecimento histórico com as indicações (30% das publicações), a repercussão internacional e o impacto cultura desse momento 925%) e reações emocionadas que se mesclam com o enaltecimento do Brasil (20%). Discussões técnicas sobre a premiação (10%) dividem espaço com uma abordagem política e de fomento à resistência à ditadura (10%).

Para além de uma cooptação político-partidária da catarse – algo que não ocorreu – chama atenção o potencial para que novos atores sejam engajados em temas sensíveis que o filme traz consigo. A delicadeza necessária das pautas levantadas se expressa também nas ausências, principalmente de atores de extrema-direita que optam por ignorar essa catarse que é, acima de tudo, pautada no orgulho do nosso país e de nossa cultura. Ironicamente, os que se identificam como PATRIOTAS ao falar de Trump estão ausentes no momento de comemoração do nosso país.

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