Entre os dias 16 e 17 de junho foram capturados tweets envolvendo Donald Trump e o termo Cuba. Esse primeiro projeto de rede resultou em um grafo formado por 65.545 nós e 94.197 arestas.
Posteriormente, a fim de aferir quais os principais agrupamentos formados a partir dessas interações capturadas pelas ferramentas, foi gerada uma rede que resultou em um grafo composto por 59.323 nós e 88.398 arestas. Ou seja, basicamente 90,51% do total de nós registrado no grafo anterior.
Após a modularização desse segundo grafo, foi possível mapear os principais agrupamentos gerados a partir do algorítimo de modularização – que calcula a probabilidade de um determinado nós [nesse caso, usuário] estar incluído em um determinado grupo/comunidade ou em outro.
Dentre os agrupamentos criados, analisamos aqueles que reúnem ao menos 0,15% de todo o grafo em seu cluster. Assim, foram analisados 12 agrupamentos distintos.
Trump e Cuba? O quê aconteceu?
Donald J. Trump anunciou a revisão do acordo de reaproximação com Cuba. Esta nova política não reverte os feitos da aproximação iniciada por Washington e Havana em dezembro de 2014, mas endurece os seus termos.
Dentre as medidas, Trump fixou medidas mais estritas para controlar que os americanos que viajem à ilha o façam efetivamente em alguma das 12 categorias já implementadas por Obama, nenhuma das quais inclui o turismo – vale lembrar que empresas aéreas e de cruzeiros para Cuba fizeram investimentos milionários nos últimos dois anos para se preparar para o novo cenário bilateral.
Talvez o ponto mais curioso é que, tratando-se de um tema que envolve diretamente dois países, chama a atenção a ausência de uma mobilização essencialmente cubana entre os principais agrupamentos, fato que pode ser explicado por inúmeras variáveis sócio-político-econômicas que não fazem parte dessa análise. No entanto, aqui, observamos que o antagonismo à medida política promovida pelo governo de Donald Trump parte dos próprios americanos, a partir de um ponto de vista que não defende o país caribenho, sua população ou seu governo, mas sim ataca o presidente americano a partir de argumentos que reforçam a visão do retrocesso que tal ação representa para àqueles contrários as sanções promovidas pelo mandatário norte-americano.
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Dentre os movimentos que se posicionam contrários à Trump destacam-se os democratas, venezuelanos pró-Maduro, movimentos engajados nas denúncias contra a discriminação racial, diversos meios de comunicação e, talvez o mais curioso capturado por esta análise, fã-clubes de charutos cubanos extremamente preocupados com possíveis sanções de Trump contra o produto.
Chama atenção a atuação de robôs venezuelanos no volume de tweets produzidos no período, bem como o perfil de embaixadas cubanas pelo mundo, com destaque para Espanha e Quênia. É importante ressaltar, no entanto, que robôs estão dispostos dos dois lados: defesa e ataques à Cuba, quase sempre fortemente conectados também a realidade política venezuelana.
Para além das ponderações necessárias, os – poucos, é verdade – tweets georreferenciados mostram uma movimentação maior em países de língua hispânica, além do diretamente envolvido Estados Unidos.
O envolvimento de usuários da América Latina – em especial Venezuela e alguns outros como Bolívia, com destaque para o presidente Evo Morales – parece “suplantar” a ausência de uma rede fortemente engajada nas redes sociais online que seja oriunda diretamente do país envolvido, no caso Cuba. Ainda visando “superar” a ausência de Cuba no Twitter, diversas embaixadas e Ministérios se posicionaram nas redes sobre o tema, gerando a partir daí diversos agrupamentos engajados com o tema.
Quem falou sobre o tema no Twitter?
Abaixo, o grafo criado a partir da captura e processamento dos tweets sobre o tema e, posteriormente, os principais agrupamentos analisados após o processamento dos dados:
Agrupamento I: 33,2%
Agrupamento marcado por usuários mais próximos aos democratas americanos. Entre as agências de notícias e imprensa, aqui destacam-se MSNBC e CNN. Alguns cantores e senadores – com destaque para Flórida e Connecticut se destacaram. Destacam-se aqui as comparações entre Cuba e Arábia Saudita [Oriente Médio], sendo o principal questionamento “Trump in Miami: I’m a “voice against repression” in Cuba (he’s expressed no similar concerns on human rights in Saudi Arabia, Turkey, Egypt), tweet de Bradd Jaffy, editor da NBC.
Basicamente, aqui, a defesa não se faz diretamente ao regime cubano ou ao país caribenho, mas sim ataques à Donald Trump e ao seu discurso retrógrado contra o país.
Agrupamento II – 21,38%:
Fortemente militar e em defesa de Donald Trump. Robôs e fakes atacam o presidente, é verdade, mas aqui a presença de estados como Tennessee e Wisconsin. Médicos que se definem como “de imigrantes LEGAIS [com ênfase no termo legal]” e participação de usuários venezuelanos contrários aos governos chavistas no país latino-americano.
Agrupamento III – 18,2%:
Agrupamento fortemente contrário à Maduro na Venezuela, com participação de usuários que circulam entre Miami e Venezuela e destaque para o usuário “dólar today”, fortemente envolvido na oposição à Nicolás Maduro. Aqui o perfil da presidência venezuelana foi “dragado” para dentro do agrupamento pelo volume de citações.
Agrupamento IV – 7,94%:
Apoio aos imigrantes nos EUA, membros do governo Obama e o presidente boliviano, Evo Moralles, são destaques nesse agrupamento. Destaca-se a defesa à Cuba promovida por embaixadas cubanas na Espanha e Quênia, bem como o Ministério de Relações Exteriores de Cuba. A Telesur também está presente nesse agrupamento, juntamente com a Sputnik. Maior volume de usuários apoiadores do governo cubano.
Agrupamento V – 5,52%:
Perfis reacionários brasileiros e imprensa. Amplamente reconhecidos pelo posicionamento de direita/reacionários nos debates políticos brasileiros no Twitter.
Agrupamento VI – 4,38%:
Perfil vegano e imprensa Americana e internacional. Forte caráter informativo e formal.
Agrupamento VII – 2,17%:
Forte envolvimento de movimentos raciais dos EUA, com destaque para o Black Lives Matter e diversos rappers, advogados engajados em questões raciais e cultura afro-americana. Destacam-se também comentaristas políticos da CNN e repórter da Bloomberg.
Agrupamento VIII – 1,85%:
Imprensa francesa e mobilização superficial pró-Trump movida por robôs.
Abaixo, outros agrupamentos registrados na análise e que merecem destaque:
3,64%: heebiejeebys: Perfil com um tweet que foi replicado. Extraordinário.

0,91%: Apoiadores de Maduro e entusiastas de Chávez fomentados principalmente por robôs e excessivo número de retweets.

0,31%: Talvez um dos mais interessantes agrupamentos formados a partir do tema: trata-se de um agrupamento formado ao redor de uma conta sobre charutos, preocupada com a legislação e importação do produto cubano no futuro. Inclui também correspondente do El País em Miami e El País internacional.
0,15%: Analistas conservadores, colunista conservador, jornalista e integrante do governo George W. Bush. Muito envolvido com dois projetos: The Heritage Foundation e Conservative Review.